Ensaio sobre a verdade
Então Saramago deu com o rabo na cerca e nós estamos aqui, vivos e inteiros nesse mundão de meu deus. Eu não sei o que acontece com a gente depois que vamos embora por que ir embora é algo que acontece sempre. Às vezes acontece antes mesmo de querermos. Vamos embora do trabalho, vamos embora do bar antes que a situação piore, vamos embora das coisas antes que elas atinjam aquele grau de deterioração irreversível. Mas ir embora da vida ainda é um mistério para a humanidade. Temos esses relatos de experiência pós morte, de coma e que tais, mas taí nosso cérebro maldito pra nos pregar peças o tempo todo. O inconsciente é um grande buraco negro, e com buracos negros não sabemos o que fazer. Tivéssemos o poder de vivenciar as coisas ocultas, estaríamos numa merda muito grande. Por que conhecer todos os segredos deve ser um saco. O desconhecido aguça os instintos e faz irmos além do que já sabemos. E tem sempre tem a fé, essa sim uma incógnita da vida. Mesmo com tudo isso, depois que nossos órgãos se apagam, depois que a consciência morre, ninguém sabe o que temos. Eu já vi muita coisa. Já vi pessoas receberem espíritos, que lêem sua mente, que escrevem mensagens do além, que tiram a sua sorte e também acertam. Uma vez eu conheci alguém que me disse que a morte nos leva exatamente para aquilo que acreditamos. Não sei como é acreditar depois do breu, mas posso entender que isso seja um estado anterior. Enfim.
A verdade é que a gente acredita naquilo que nos faz sentir melhor. Pode ser uma ilusão boba, pode ser uma convicção qualquer, pode ser a aceitação tácita de que as coisas devem ser exatamente como elas são. Mas também é verdade que nós temos o poder de a qualquer hora – e aqui eu incluo até a hora em que estamos no banheiro – mudar nossas crenças. Basta querer. Às vezes isso acontece de repente, às vezes passamos por um processo de auto conhecimento, às vezes acontece enquanto vemos um filme. Não importa. O legal de tudo é que a gente pode mudar o que acreditamos tão logo se queira. E aí o que era luz vira escuridão e o que era escuridão se torna um dia de céu azul. Aquilo que achávamos ser erros tornam-se apenas quem somos na nossa maior ingenuidade e todos os acertos viram uma grande cagada. Não há nada mais ideal do que poder nos livrar das coisas que não nos servem mais. Porque assim é a verdade; um belo bocado de coisas que viram obsoletas no mesmo instante que se deseja.
O mundo é grande demais para se viver com verdades absolutas. Não é algo que eu tenha aprendido, só é uma coisa que eu sei que existe. Ou melhor, não existe. Todas essas verdades, todas essas provas podem sempre ser contextadas. E revisadas e revistas e revisitadas. E nisso reside aquilo que nos é mais caro: a nossa própria liberdade.
Não é incrível?
Texto bom do beijomeliga
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